segunda-feira, janeiro 23, 2006

O eclipse de Mário Soares

Análise publicada no Diário Económico on-line e que reflecte o pensamento da maioria dos Portugueses.

Presidenciais 2006 > 2006-01-23 06:30
O eclipse de Mário Soares
João Paulo Guerra

Mário Soares, fundador da democracia portuguesa, primeiro primeiro-ministro saído de eleições e primeiro Presidente da República civil eleito após Abril de 1974, terminou ontem sem glória uma carreira política que o tinha levado a todos os altos cargos de eleição.

Terceiro classificado numa eleição presidencial, depois de ter cumprido dois mandatos em Belém, o segundo dos quais obtido numa campanha que foi um autêntico passeio pela avenida, Soares saiu duplamente derrotado das eleições presidenciais de 2006. Não evitou a eleição de Cavaco Silva, seu arqui-rival durante a coabitação de 1985-95, e foi batido no campo da esquerda por Manuel Alegre.

Soares já tinha recebido uma lição quando se candidatou com alguma arrogância à presidência do Parlamento Europeu e foi batido por uma “dona de casa”. Agora foi batido no seu campo político por um candidato sem apoio e sem aparelho partidário. Talvez Soares pensasse que bastava aparecer para arrastar multidões e eleitores. Não foi isso o que aconteceu. E Soares acaba por sair de cena pela esquerda baixa.

Mário Soares entrou de rompante nas eleições presidenciais, depois de Manuel Alegre manifestar a sua disposição para se candidatar. Diga-se que, em 1996, Soares também tentou evitar a candidatura de Jorge Sampaio. Mas aí não podia, como agora, meter-se a si próprio no cenário das eleições. Desta vez podia e foi o que fez, por iniciativa própria ou a pedido da direcção do PS, o que não ficou definitivamente esclarecido.

Resta a Mário Soares uma única consolação, na hora do eclipse. A de não estar sozinho nesta humilhante derrota, envolvido com a direcção do PS. Depois de perseguir o fantasma de uma candidatura de António Guterres, de querer criar uma candidatura de António Vitorino, a direcção do PS agarrou-se à ilusão da candidatura de Mário Soares. Dizia Manuel Alegre, nos últimos dias da campanha, que os socialistas teriam uma escolha muita séria a fazer nestas eleições.

Grande parte dos eleitores socialistas escolheu Alegre. Mas a direcção do PS escolheu a derrota absoluta, com o terceiro lugar de Mário Soares. Para a direcção do PS o único motivo de alívio deve ter sido a vitória de Cavaco Silva à primeira, evitando o embaraço de uma indicação de voto para uma segunda volta.

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