quarta-feira, fevereiro 16, 2005

os telhados são de vidro e as pedras estão na mão

Disse Jorge Sampaio, no jantar do vigésimo aniversário da Associação de Desenvolvimento das Comunicações, que a política do nosso PORTUGAL “precisa de pessoas altamente preparadas e altamente formadas” para que regrida a desilusão do cidadão comum perante as instituições que, supostamente, o representam.

Ninguém ainda se tinha apercebido desta necessidade crassa da nossa sociedade(!). Tal como ainda ninguém reparou que o que faz falta é alguém que ‘ponha ordem na casa’ e que moralize o sistema e as instituições por forma a que todo e qualquer cidadão tenha, no mínimo a convicção e de preferência a certeza, de que se encontra protegido em termos de saúde, educação e justiça pelo Estado que lhe leva parte do ordenado no final do mês.

Mas quem tem telhados de vidro devia deixar as pedras no chão em vez de as atirar ao do vizinho.

Será este o mesmo Jorge Sampaio que, perante um Governo maioritário com uma cor política diferente da sua e que começava a afrontar alguns interesses instalados, optou por dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas, deixando PORTUGAL a navegar no limbo durante alguns meses? Tudo isto sem uma justificação que conseguisse convencer alguém imparcial e de perfeito juízo e só depois de o seu partido ter mudado de líder pondo de lado uma pedra já desgastada por escândalos e alguns anos de (in)acção governativa.

Confesso até que tenho uma certa curiosidade, quiçá até algo mórbida, em relação ao porquê de Jorge Sampaio ter auscultado a opinião do Conselho de Estado depois de ter anunciado ao país a dissolução da Assembleia da República em vez de se ter preocupado em ouvir a opinião dos membros deste órgão consultivo antes da sua tomada de decisão.

Mesmo que infundada, ficou assim no ar uma suspeição que indubitavelmente ajudou a minar a confiança a que Jorge Sampaio vem agora apelar e sem a qual o pântano alagará.

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