terça-feira, março 08, 2005

ao colo – Parte III

Que José Sócrates ganhou as últimas eleições legislativas Portuguesas com o apoio do ‘golpe’ promovido por Jorge Sampaio e levado ao colo pela comunicação social (que continua a bater em Pedro Santana Lopes apesar de este já estar politicamente ‘morto’) é do conhecimento público.

Atente-se em
http://www.portugaldiario.iol.pt/colunistas/artigo.php?id=509260&div_id=2731 e ter-se-á uma ideia daquilo a que me refiro.

Indubitavelmente que, sendo um artigo de opinião, o autor pode apoiar as causas e pessoas que bem entender. Convém contudo que o faça a partir de bases sólidas e com um mínimo de sustentabilidade.

Sinceramente, nunca, durante toda a campanha eleitoral, escutei de José Sócrates qualquer afirmação relativamente à linha condutora da sua actuação caso viesse a ser eleito primeiro ministro. Tudo o que lhe ouvi foram ideias soltas relativamente aos objectivos que pretendia, sem que fosse fornecida qualquer pista quanto ao timing ou forma de concretização dos mesmos.

Descubro agora que José Sócrates pretende o estabelecimento de um Estado-Providência à semelhança dos do Norte da Europa. Nobre objectivo, sem dúvida, nomeadamente se tivermos em consideração o estado caótico em que se encontram o SNS e a Segurança Social, e que é do conhecido de qualquer cidadão que a eles pretenda recorrer.

O paradoxo de um artigo escrito a metro e encomendado pela entourage do elogiado, reside numa mera exposição acrítica dos elementos ‘fornecidos’ para ‘construção da opinião’. Ora, escreve o ‘opinador’ que o Estado-Providência Português será apoiado na receita fiscal (tal como o verificado nos países nórdicos). E aqui reside o busílis da questão…

A cultura societária Portuguesa, e, para este efeito, a de toda a Europa do Sul, é claramente divergente da dos países modelo apontados. O objectivo primordial de grande parte dos contribuintes Portugueses é fugir o mais possível aos impostos e, simultaneamente, tentar ‘sacar’ o máximo ao Estado. É impensável, para a maioria dos contribuintes, pagar mais impostos para que o Estado possa prestar mais e melhores serviços (até porque o que se tem verificado é precisamente o oposto: os impostos aumentam mas a qualidade dos serviços prestados regista uma evolução exponencial mas inversamente proporcional).

O problema põe-se portanto (tal como sempre) ao nível da fuga ao fisco. É neste campo que PORTUGAL é obrigado a melhorar se quiser continuar a sobreviver e a garantir aos seus cidadãos, pelo menos, o nível mínimo de assistência. Mas um ganho ao nível da máquina fiscal do Estado iria contra interesses instalados e lobbies que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a recente alteração da composição partidária da Assembleia da República.

E é, tão simplesmente, aqui que falha o artigo acima mencionado e, em última análise, o ‘pensamento’ do ‘grande-timoneiro’ do momento.

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