No seguimento do post O princípio do fim de 22 de Dezembro de 2005, segue abaixo a trascrição de mais uma notícia do site do Diário Económico sobre o mais recente escândalo a afectar o Partido Republicano dos USA.
(original no Diário Económico on line de 23 de Janeiro de 2006)
Estados Unidos América > 2006-01-23 06:30
Escândalo de corrupção abala republicanos em ano eleitoral
Nuno Guerreiro nos EUA
Demissão de Tom Delay coloca John Mccain no caminho para a presidência. Senador tem 16 pontos de vantagem sobre Hillary Clinton.
O Partido Republicano dos Estados Unidos enfrenta uma profunda crise de imagem no seguimento do escândalo de corrupção que envolve pelo menos 33 dos seus congressistas, acusados de receber subornos em troca de favores para os clientes da empresa de lobby representada por Jack Abramoff, até há pouco tempo um dos homens mais influentes dos bastidores de Washington. Abramoff reconheceu recentemente o seu papel nas tentativas de suborno e está agora a colaborar com a investigação das autoridades.
A primeira vítima do escândalo foi o líder republicano da Câmara dos representantes, Tom DeLay, amigo pessoal de Abramoff, que entretanto enfrentava já um processo por corrupção e lavagem de dinheiro no seu estado natal do Texas. DeLay foi obrigado a abandonar a liderança da bancada do partido, perdendo irremediavelmente o que parecia ser um lugar cativo no topo da esfera de influência dos republicanos em Washington.
As implicações do escândalo de corrupção no seio dos republicanos são ainda, na opinião de alguns analistas, impossíveis de quantificar na totalidade. “Há um preço a pagar por este abuso de poder dos republicanos que pode ser visto no actual estado do país. Os grupos de interesse são recompensados pelos republicanos enquanto todos os outros são deixados para trás”, acusou ente fim-de-semana o líder da minoria democrata no Senado, Harry Reid, ex-presidente da Comissão de Ética do Senado.
Por entre esta verdadeira tormenta política, e de olhos postos já nas presidenciais de 2008, o nome do senador John McCain começa a circular como o principal candidato eventual dos republicanos para a substituição de George W. Bush. Uma sondagem revelada na semana passada mostrava que McCain é até agora o único republicano que pode aspirar a derrotar a maior esperança presidencial dos democratas - a senadora e ex-primeira dama Hillary Rodham Clinton. Na sondagem, McCain tinha uma vantagem de 16 pontos sobre Hillary (56% contra 36%).
Classificado como “conservador moderado” pelos analistas, John McCain há muito que se aliou aos esforços dos seus colegas democratas para reformar o sistema de financiamento das campanhas políticas, no sentido de libertar os partidos e os candidatos das amarras criadas pelas doações de grupos de interesses e lobbys. Neste sentido, o escândalo Abramoff catapulta McCain para a primeira linha dos candidatos republicanos ideias - não só porque não está envolvido no escândalo, longe disso, mas porque é conhecido como um inimigo frontal dos grupos de interesse e dos jogos de bastidores de Washington.
Um dos sinais do peso crescente de John McCain pode ler-se no número de apoiantes da sua recente proposta de lei que veda membros do Congresso de participarem em viagens promovidas por grupos de interesse e impõe limites rígidos às doações provenientes de grupos de lobby - uma medida a que se opunham até há bem pouco tempo muitos dos seus colegas republicanos.
CONGRESSISTA LUSO-AMERICANO IMPLICADO NO ESCÂNDALO
O congressista republicano luso-americano Richard Pombo foi um dos últimos membros da Câmara dos Representantes a ser apanhado nas malhas do chamado “caso Abramoff”. A líder da minoria democrata, Nancy Pelosi, exigiu este fim-de-semana que Pombo fosse investigado pela Comissão de Ética do Congresso, um gesto que o congressista luso-americano classificou como “uma caça às bruxas idêntica ao macarthismo”.
Richard Pombo recebeu meio milhão de dólares em contribuições para a sua campanha eleitoral feitas por tribos índias representadas por Jack Abramoff, o “lobbista” agora no centro do escândalo que já se tornou uma dor de cabeça para o partido de George W. Bush. Abramoff representava os interesses de exploração de casinos de uma tribo, os Mashpee Wampanoags, que alegadamente teriam sido beneficiados posteriormente por uma proposta de lei apresentada na Câmara dos Representantes por Richard Pombo. O congressista luso-americano admite ter recebido o dinheiro, mas nega que a contribuição possa de alguma forma estar relacionada com a peça legislativa.
Tido como bastante influente junto da ala conservadora dos republicanos, Richard Pombo preside actualmente à Comissão de Recursos da Câmara dos Representantes. Conhecido no Congresso pelos seus constantes confrontos com movimentos ecologistas, Pombo promoveu recentemente a apresentação em plenário de um polémico pacote legislativo que visava eliminar parcialmente a lista oficial de espécies animais em vias de extinção.
Tom DeLay
Considerado um dos mais influentes congressistas do Partido Republicano nas últimas décadas, DeLay era o líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes até rebentar o escândalo. Actualmente a ser julgado por corrupção e lavagem de dinheiro no Texas, o ex-líder republicano é ainda acusado de ter impedido a votação de legislação a que se opunham empresas detentoras de casinos representadas por Jack Abramoff.
Richard Pombo
Congressista luso-americano oriundo da cidade californiana de Tracy, em redor da qual residem inúmeras famílias de emigrantes portugueses e luso-descendentes. Pombo é acusado de receber meio milhão de dólares de contribuições de campanha em troca de favores políticos que beneficiaram clientes de Jack Abramoff. Richard Pombo admite ter recebido o dinheiro mas nega ter oferecido qualquer contrapartida.
John McCain
Senador do Arizona e candidato derrotado por George W. Bush nas eleições primárias presidenciais de 2000, é encarado agora como uma “tábua de salvação” para a imagem do Partido Republicano. McCain tem defendido no Senado, ao longo das últimas duas décadas, a necessidade de reformar o actual sistema de financiamento das campanhas políticas, que caracteriza como um “incentivo à corrupção”.